O VALOR DAS ATITUDES

Só atitudes tem poder para construir
Marcos Pontes
06/06/2006

Quarta-feira, final de tarde. Dia quente em Houston. Dia cheio. Cabeça quente. Muitos documentos técnicos e reuniões de trabalho. Pouco tempo para ler jornal. Sentei em minha cadeira no escritório aqui na NASA. Todos já tinham ido para casa. Olhei para os lados. Mesa desarrumada. Papéis, cartas, livros, e outras coisas que nem sabia mais o que eram. Pensei em organizar. Desisti. Nesse momento, o cansaço pede música, e a cadeira é confortável. Liguei o rádio no computador. Coloquei os fones. Olhei para a tela. Fotos da Rússia. Fotos do Brasil. Um sorriso escapou. Lembranças boas. Na parede, gráficos, cronogramas e um papel já meio empoeirado do tempo de estar ali exposto. Uma mensagem. Lembrei que prendi ali, com durex, há anos, quando cheguei aqui no escritório dos astronautas. Ficou ali no canto. Não prestei muita atenção por todos esses anos. Mas estava sempre ali. Mais de 8 anos. Hoje, cansado da batalha contra “nem sei o quê”, muito menos o “porquê”, aquelas palavras soaram como “a doce voz da mãe”. A voz que acalma o coração. A mensagem dizia assim:

“Pessoas têm reações absurdas, ilógicas e egoístas,
AME-AS ASSIM MESMO
Se você faz o bem, pessoas irão acusá-lo de egoísta ou aproveitador,
FAÇA O BEM ASSIM MESMO
Se você tem sucesso, você irá conquistar falsos e verdadeiros inimigos,
TENHA SUCESSO ASSIM MESMO
O bem que você faz hoje, será esquecido amanhã,
FAÇA O BEM ASSIM MESMO
Honestidade e franqueza fazem você vulnerável,
SEJA HONESTO E FRANCO ASSIM MESMO
O que você gastou anos construindo pode ser destruído do dia para a noite,,
CONSTRUA ASSIM MESMO
Pessoas realmente precisam de ajuda, mas podem atacá-lo se você ajudá-los,
AJUDE-OS ASSIM MESMO
Dê ao mundo o melhor de você e você receberá em troca chutes na boca,
DÊ AO MUNDO O MELHOR DE VOCÊ
….. ASSIM MESMO.”

Madre Teresa

Nesse momento, essas palavras eram exatamente o que eu precisava ouvir depois de toda a decepção que senti na semana passada pelos comentários irresponsáveis de alguns aproveitadores sobre minha passagem para a reserva da Força Aérea. Esse sentimento ficou registrado, para sempre, dentro de mim, e também por escrito, para que as gerações futuras possam aprender através dos fatos da história. O texto está disponível com o nome "passagem do serviço da ativa para a reserva da FAB”.

Sei que a essa altura, esse assunto já está completamente esgotado para todas as pessoas inteligentes do país. A rigor, não precisaria nem escrever mais nada sobre essas coisas. Bastaria esperar que os brasileiros de verdade, aqueles que nunca teriam dúvidas para qual time torcer em um jogo do Brasil da copa (por exemplo: Brasil x Itália), simplesmente observassem a seqüência natural dos fatos e acompanhassem a continuidade do meu trabalho no Programa Espacial e para a Força Aérea depois da passagem para a reserva.

Porém, sendo um tanto detalhista e no sentido de dar um “cobrir e alinhar” geral (termo da gíria militar para “organizar”) nessa história toda, resolvi colocar algumas observações finais. Com isso ficará clara a diferença entre as palavras irresponsáveis de alguns e as minhas ações concretas. Isso encerra de uma vez por todas esse assunto absurdo.

Em resumo, eu sou um piloto, astronauta e engenheiro, e minha forma de pensar é exatamente como necessário para essas profissões: clara, direta, e simples. Assim, não trabalho com suposições, ou “achismos”. Trabalho com fatos, atitudes, decisões e ações. Operacionalmente, essa característica é, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte.

OK! Ficaram todos muito carrancudos! Prefiro um sorriso no rosto! Então, para relaxar, alguém sabe quais são as três coisas mais inúteis para um piloto de caça?

  • Altitude “para cima do avião” – Não se preocupe com o que não pode mudar!
  • Pista “para trás do avião” – Tome as melhores decisões possíveis, e sempre mantenha a atenção no presente e no futuro.
  • Combustível consumido – Use os recursos disponíveis com atenção.

Retornando ao nosso “assunto”. Em termos práticos:

1. A MISSÃO CENTENÁRIO:

Cumpri exatamente da forma que fui designado e treinado, como militar, para fazê-lo: sem nenhum erro operacional.
O treinamento executado durante 8 anos, foi exclusivamente para o objetivo de execução operacional da missão (operação dos sistemas, experimentos, sobrevivências, etc). A realização da missão com precisão foi, portanto a concretização e o retorno integral de todo o investimento feito pela AEB para o meu treinamento. Portanto, tal custo, foi completamente justificado e selado quando do momento do pouso da missão.
As finalidades definidas e divulgadas pela AEB para a missão eram: realizar experimentos científicos e aumentar a visibilidade e atenção sobre o programa espacial. Claramente, os dois objetivos foram cumpridos plenamente. Portanto o custo pago pela AEB para a Rússia para a realização da missão foi completamente justificado dentro dos critérios (objetivos) estabelecidos pela administração.
A minha participação na missão foi exclusivamente como astronauta (tripulante). Obviamente, nessa função não são incluídas as decisões de orçamento, custos, ou qualquer outro fator administrativo. Portanto, não cabe a mim a atribuição e muito menos sou a pessoa correta para a justificativa de qualquer parte do custo da missão ou dos seus objetivos.
Atitudes e decisões:

O trabalho científico associado ainda está em andamento pelos pesquisadores, mas já começa a dar os primeiros resultados.
O trabalho de utilização da missão como foco de divulgação do programa espacial e motivação de jovens para as carreiras militares e de ciência e tecnologia estará em andamento por muitos anos. Eu estarei fazendo a minha parte promovendo a educação e através de palestras e eventos públicos por todo o Brasil.
Do ponto de vista operacional, a Missão Centenário foi encerrada no dia 09 de Abril de 2006. Acabou, já está no passado! Agora é tempo de buscar novos desafios. É tempo de olhar para frente, tocar a vida, realizar mais!
A Missão Centenário foi uma decisão e realização do governo. Se o governo decidir usá-la para divulgação de suas realizações, isso é um direito adquirido e, certamente, não é da minha área de decisão. Os fatos que eu sei são os seguintes:
Ninguém, em sã consciência, pode ignorar ou negar a importância da missão para a motivação das futuras gerações. Ela foi, portanto muito importante para o País.
Também, ninguém pode negar que, para que a missão acontecesse, o governo teve que ter a coragem de tomar a decisão de realizá-la, assumir a responsabilidade, cobrir os custos e encarar as opiniões contrárias. Isso eu admiro: atitude, coragem para assumir posição, encarar críticas destrutivas e fazer o que tem de ser feito para o bem do País.
Por outro lado, fique bem claro que “eu – Marcos Pontes” não sou a Missão Centenário, e que “eu – Marcos Pontes” não tenho partido político. Assim, o que posso afirmar, com certeza, é que não estarei em nenhum palanque fazendo discurso a favor de nenhum partido ou candidato, de qualquer dos lados.
"Eu - Marcos Pontes”, sou apenas um eleitor comum, que teve a missão de treinar anos e colocar a vida, literalmente, a serviço do país para levar a bandeira pela primeira vez em órbita do planeta. Apenas isso.

2. AS OPÇÕES DEPOIS DA MISSÃO

O que eu gostaria..
Que o projeto da participação brasileira na ISS estivesse plenamente funcionando desde 1997,
Que tivéssemos entregue já quase todas as 6 partes originalmente sob responsabilidade do Brasil
Que o nome do Brasil dentro do grupo dos 16 países participantes fosse hoje um sinônino de competência técnica, responsabilidade, pontualidade e seriedade
Que tivéssemos um vôo já escalado para esse ano ou para 2007 a bordo do ônibus espacial para a ISS,
Que depois da participação na Missão Centenário, eu pudesse continuar na FAB, representando o Brasil e treinando aqui na NASA, na função exclusiva de astronauta, aguardando o próximo vôo espacial já escalado,
Que não fosse necessária a minha participação na área técnica pois o programa tivera sempre o apoio completo de todas as instituições do programa espacial,
Que já tivéssemos um segundo astronauta sendo treinado aqui, aguardando para a ampliação da cooperação e a escalação para seu vôo.
Seria bom, não seria? Porém, infelizmente o cenário real logo depois do meu vôo é bem diferente...
O Brasil ainda não entregou nenhuma parte de sua responsabilidade na cooperação internacional da ISS
O Brasil está prestes a ser “dispensado” da cooperação internacional
Na carreira militar, eu não tinha mais perspectiva de ascensão.
Não existe nenhuma perspectiva de um segundo vôo espacial segundo a contribuição atual do Brasil na ISS.
Isto é, minhas funções deixaram de ser do escopo de “representante do Brasil no espaço” e passaram a ser apenas no setor técnico, trabalhando pela AEB e/ou em benefício do setor privado (indústria) dentro da NASA.
Este era parte do cenário real. Certamente muita gente desistiria e partiria para outra. Mas eu nunca aceitaria essa opção.
Considerei esse cenário injusto com a Força Aérea, visto que o acordo feito era para a minha manutenção no exterior para “representar o Brasil como astronauta” no programa. Agora eu não estaria mais fazendo isso e ainda não estaria produzindo nenhum trabalho para a FAB, apenas para a AEB e o para o setor privado
Contudo, ciente da minha importância para manter a participação brasileira na ISS, primeiro ficou claro que eu deveria permanecer em Houston.
Hoje temos uma situação crítica. Uma situação na qual o programa precisa de mim, mais do que nunca, na intermediação da parte técnica para ajudar a contornar com a NASA os problemas dos atrasos do Brasil e para ajudar a viabilizar e acelerar, trabalhando junto ao setor privado nacional, a construção das partes espaciais tão esperadas.
Assim, ciente do cenário completo, fiquei com apenas duas opções possíveis:

Opção 1: Continuar na ativa e retornar ao Brasil para trabalhar como Ten.Cel.Av em alguma unidade da FAB, provavelmente o CTA, abandonando o projeto da ISS, no qual trabalhei 8 anos, ou

Opção 2: Por ter todos os requisitos necessários, eu poderia passar para a reserva, continuar em Houston, trabalhar para ajudar o programa da ISS, lutar para ampliar essa cooperação com sucesso e assim conseguir incluir um segundo astronauta para dar continuidade no projeto de vôos tripulados no Brasil, e colaborar em projetos e cooperações do IAE-FAB de forma mais eficiente e ampla.

Atitudes e decisões:

Em face da seriedade da situação, consultei longamente com o Comandante da Força Aérea a respeito do que poderia ser a melhor decisão. Falei com a família e pessoas que conheciam o cenário completo em todos os aspectos. Assim, todos os conhecedores de todos os fatores envolvidos participaram ativamente da decisão.
Finalmente uma decisão, baseada na busca do melhor e do mais adequado para todos os projetos, instituições e pessoas envolvidas, foi tomada conjuntamente com o oficiais do Comando da Aeronáutica, o Comandante da Força Aérea e com a ciência do Presidente da AEB.
A decisão: Por ser muito mais vantajosa para o programa espacial e a para a FAB a segunda opção acima foi escolhida.
Como visto, obviamente a transferência do serviço ativo para a reserva da Força Aérea não significou saída do Programa Espacial (como alguns irresponsáveis correram para “opinar”). Ao contrário, fez com que eu me aproximasse mais ainda de todos os setores.
Além disso, essa decisão me possibilita ser ativo na área social da educação de crianças de baixa renda. Algo extremamente importante para mim.
Assim, a lógica imperou, e de um modo bastante natural. Na verdade, a situação de continuar trabalhando na reserva aqui na NASA (ou em qualquer lugar do planeta) é bastante comum para qualquer militar. Uma opção e um direito adquirido pelos anos na carreira. No meu caso, visto o cenário que eu tinha, eu não tinha outra opção lógica. Contudo, vários dos astronautas, amigos meus, fizeram também essa opção e são oficiais da reserva. Aqui vai um exemplo que certamente todos vão recordar: William MacArthur, Coronel da Reserva do Exército Americano, tripulante da expedição 12 da ISS. Estivemos juntos no espaço e ele pousou comigo no Soyuz! Interessante, não é?
OK! A decisão foi tomada, o processo foi realizado pelo setor competente da Força Aérea e minha passagem para a reserva foi publicada no Diário Oficial. Feito. Pista para trás.
Enquanto pessoas desinformadas ou mal-intencionadas falavam asneiras e barbaridades sobre o fato consumado, continuamos em frente, de modo produtivo, trabalhando aqui em Houston para tentar salvar a participação brasileira na ISS e para otimizar a nova situação!
Nota: Só nos atrapalhou o fato de eu ter de ficar perdendo tempo precioso de trabalho para tentar corrigir os danos que a irresponsabilidade de alguns aproveitadores causou no moral dos nossos jovens. Ou seja, além de prejudicar o meu trabalho para o programa espacial, em um momento crítico, ainda prestaram um completo desserviço ao futuro do país!
Sigamos em frente....para a próxima etapa!

3. NA RESERVA E TENDO QUE CONTINUAR TRABALHANDO EM HOUSTON, COMO PROVER, RECURSOS SUFICIENTES E MANTER A FAMÍLIA?

E depois da reserva? Será que seria injusto o astronauta, militar da reserva, ser remunerado pela agência civil para a qual trabalha? Vamos ver como é feito por aqui, na NASA, onde existem astronautas militares há mais de 40 anos.
Quando um militar, digamos um capitão aviador da Força Aérea Americana, é selecionado para a função de astronauta, a NASA assume completamente a responsabilidade pela sua remuneração, além obviamente de todos os custos de seu treinamento e vôo espacial. Enquanto ele está no serviço ativo, ele continua a receber o salário através do sistema de pagamento da Força Aérea, no valor normal do seu posto, porém a NASA repassa anualmente para a Força Aérea todos os custos de salário e outras obrigações empregatícias. Quando o militar passa para a reserva, a Força Aérea paga o salário previdenciário do oficial. Desse ponto em diante, a NASA paga o salário normal de astronauta, mas agora sem a intermediação da Força Aérea. Simples não é? Todos têm plena consciência de que a transferência para a reserva é um direito adquirido através dos anos de trabalho segundo a lei. O processo é completamente normal, natural e sem discussões descabidas
Na verdade, isso não é nenhuma novidade. Existem milhares de servidores no Brasil que são recontratados após a reserva ou aposentadoria. Ou seja, por quê um ou outro deveria ser discriminado?
No meu caso, quando das análises com a Força Aérea para a decisão de minha reserva, já mantivemos um início de conversação conjunta com a FIESP para que, através de consultoria, eu pudesse impulsionar de forma eficiente a construção, junto à indústria, das partes nacionais para a participação brasileira na ISS, bem como ajudar na integração entre o setor privado e outros projetos da área espacial e da defesa.
Assim, dado ao exposto com relação a NASA (no nosso caso a AEB), ficamos novamente entre duas opções com relação à maneira pela qual eu poderia obter remuneração:

Opção 1: Através da AEB, semelhante ao que é feito pela NASA para os astronautas que são oficiais da reserva, ou

Opção 2: Através de meus próprios meios, desenvolvendo atividades concomitantes na iniciativa privada que, ao mesmo tempo, gerem a renda necessária para o sustento de minha família e também permitam que eu permaneça desenvolvendo os projetos, coordenadamente, junto à AEB-NASA em Houston e, no Brasil, junto à FAB e à indústria privada.

A primeira opção, embora fosse o natural na NASA e mais “segura” para mim, teria dois pontos contrários: gerar um “peso extra” na folha de pagamentos da AEB e a possibilidade de má interpretação pela imprensa, conforme demonstrado claramente quando o Presidente da AEB falou a respeito da possibilidade de gasto extra para “pagar por minha consultoria”.
Atitudes e decisões:

Depois de analisar por completo a situação, a segunda opção mostrou-se mais adequada e lógica para todos, pois permite a solução completa dos problemas da primeira opção com a redução a zero de todos os gastos dos cofres públicos comigo, enquanto permaneço trabalhando nos projetos de interesse do Programa Espacial e Força Aérea. Quanto a mim, a opção permite ainda maior progresso profissional, através das atividades concomitantes no setor privado como maior experiência através de consultorias técnicas, participação em campanhas publicitárias, atividades empresariais, etc.
Decisão tomada, o próximo passo é a busca imediata de possibilidades de atividades e contratos junto ao setor privado. Além disso, continuar as negociações com a FIESP para a consultoria na fabricação das partes da ISS,
Em resumo, e de forma geral, passamos a adotar a seguinte política: considerando os meus objetivos pessoais pela participação brasileira na ISS, pela Força Aérea, pela Educação e pelo meu amor pelo País, todas as minhas atividades, dentro de minha possibilidade e diretamente em prol do setor público e instituições não lucrativas, serão feitas sem nenhum custo de remuneração. Para o setor privado com fins lucrativos, todas as atividades serão remuneradas.
Tomada mais uma decisão, seguimos em frente.

4. OFICIALIZAÇÃO DA CONTINUIDADE DE MINHA PARTICIPAÇÃO NO PROGRAMA ESPACIAL

Eu sou de uma cidade do interior. Meu pai costumava dizer que a palavra de uma pessoa de bem tem mais valor que qualquer papel.
Na Força Aérea aprendi o valor do compromisso com a nação. Aquele sentimento que faz com que, no meio de uma forte artilharia anti-aérea, mesmo perdendo amigos da esquadrilha, não esmorecemos e continuamos na proa do alvo para cumprir nossa missão.
Também na FAB aprendi o que significa “levar a mensagem a Garcia”. Quem não sabe, pesquise.
Foi com esse tipo de espírito de compromisso que trabalhei e abdiquei da minha vida pessoal por 8 anos para ajudar a manter a participação brasileira na ISS, treinando com dedicação, mesmo quando não parecia haver esperanças de vôo, para realizar a missão para a qual a Força Aérea me designou para o Brasil.
Isso só é possível quando temos objetivos pessoais muito definidos e a determinação firme de realizá-los.
Se alguém ainda não notou, alguns dos meus objetivos pessoais importantes estão diretamente relacionados a eu permanecer trabalhando no programa espacial e na Força Aérea. Basta ler o texto da reserva e os tópicos anteriores desse aqui, quanto às decisões tomadas.
Portanto, para informação dos desavisados, eu continuaria trabalhando em prol desses objetivos, e portanto ajudando aos projetos do Programa Espacial e da FAB, mesmo que a administração atual tentasse me impedir, ou mesmo proibisse, que eu participasse. Ou seja, o problema que o governo tem não é de tentar “me manter” em atividade nesses projetos. O problema seria de tentar “me tirar” deles!
Lembre-se que governos, administrações e as pessoas passam. Porém, o País, os projetos e os objetivos verdadeiros, devem sempre permanecer.
Só como exemplo, o projeto da participação brasileira na ISS sobreviveu assim (acredite, apesar de muita gente), com determinação, durante 2 governos, 4 ministros de C&T, 4 Presidentes da AEB, 3 Diretores do INPE, 5 Gerentes de Projeto, e 1 astronauta.
Isso não quer dizer que a minha presença seja absolutamente essencial para que ele seja concluído com sucesso. Ninguém é insubstituível. Mesmo porque, as decisões sobre a manutenção do projeto, seus orçamentos, e todos os outros fatores administrativos, são de competência exclusiva da AEB. Eu só posso tentar ajudar e opinar.
Atitudes e decisões:
Apesar de acreditar que não exista dúvida no país sobre minha determinação e compromisso (pelo menos por parte dos brasileiros de verdade), decidimos que seria apropriado deixar esse compromisso por escrito, de forma a oficializar minha participação nas seguintes atividades, sem custo de remuneração aos cofres públicos:
Continuar no projeto da participação brasileira da ISS como intermediador técnico na NASA em Houston,
Iniciar assessoramento nos projetos do IAE, como VLS e as cooperações internacionais
Essa é a diferença entre atitudes concretas e palavras vazias.

5. AÇÕES FUTURAS:

Área técnica:
Além das atividades junto ao Programa Espacial e à FAB.
Iniciaremos análises para motivar a criação de um Centro Dedicado para Pesquisas em Microgravidade
Área de educação:
Estamos planejando um programa educativo de TV junto com a “TV do SABER – TV Cultura” que será distribuído a mais de 5000 escolas públicas só no estado de São Paulo.
Área de divulgação:
Continuarei a realizar palestras sem remuneração para divulgar o programa espacial e a Força Aérea, motivando milhares de jovens para as carreiras militares e de Ciência e Tecnologia em centenas de instituições públicas e sem fins lucrativos.
Os custos de logística (passagens, estadia, etc) serão, como sempre, cobertos pela instituição organizadora.
Área social:
Iniciaremos a estruturação de um instituto para promover educação às crianças de baixa renda.
Área política:
No momento não tenho qualquer intenção de participar. Se um dia eu julgar que essa atividade seja necessária para a continuidade de meus projetos sociais, dentro de minhas convicções. Se eu julgar que eu tenha a preparação teórica e as experiências necessárias no meio político e, finalmente, que exista o desejo público que eu seja o seu representante, aí eu posso considerar a idéia. No momento, sem a menor chance. Deixo a missão para aqueles mais capacitados a realizá-la.

CONCLUINDO...

Esta, portanto, é a realidade dos fatos. Essas são as atitudes, as decisões, e as ações. Isso é o como sou. Isso é o que eu sou. Uma pessoa comum como qualquer outra. A única coisa que tenho é uma determinação fora do comum. Sou um piloto, um astronauta e engenheiro. Não posso resolver todos os problemas dos programas, não posso fazer milagres, não posso convencer a todos com palavras. Mas posso lutar pelo que acredito e manter a atitude e trabalhar. O tempo e as atitudes demonstrarão por si.
Isso é a única coisa lógica a fazer. Todas as decisões já foram tomadas. Agora é hora de trabalhar e “realizar”. Vou dar o melhor para contribuir com o meu país e para progredir profissionalmente. Alguns vão gostar e aplaudir. Outros vão arregaçar as mangas e ajudar. Alguns irão tentar de todo modo fazer a única coisa que sabem – atrapalhar. Vou dormir em paz. Afinal, isso não é o que todos nós queremos, ou deveríamos querer?
Finalmente, recosto na cadeira novamente. Longo texto. Olho para a parede. Aquela mensagem faz, realmente, todo o sentido.

Fiquemos todos com Deus!
“Pessoas têm reações absurdas, ilógicas e egoístas,
AME-AS ASSIM MESMO
Se você faz o bem, pessoas irão acusá-lo de egoísta ou aproveitador,
FAÇA O BEM ASSIM MESMO
Se você tem sucesso, você irá conquistar falsos e verdadeiros inimigos,
TENHA SUCESSO ASSIM MESMO
O bem que você faz hoje, será esquecido amanhã,
FAÇA O BEM ASSIM MESMO
Honestidade e franqueza fazem você vulnerável,
SEJA HONESTO E FRANCO ASSIM MESMO
O que você gastou anos construindo pode ser destruído do dia para a noite,,
CONSTRUA ASSIM MESMO
Pessoas realmente precisam de ajuda, mas podem atacá-lo se você ajudá-los,
AJUDE-OS ASSIM MESMO
Dê ao mundo o melhor de você e você receberá em troca chutes na boca,
DÊ AO MUNDO O MELHOR DE VOCÊ
….. ASSIM MESMO.”
Madre Teresa

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